Os Dançarinos

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Admirável Mundo Novo


Ninguém me contou, aconteceu comigo!

Noutro dia simplesmente recebi um email com um texto meu. Um texto em forma de diálogo que foi escrito e publicado neste blog que você lê no dia 26/02/2010 com o título de "Semântica".

Seria uma situação engraçada se, no email em questão, a autoria do texto não estivesse atribuída ao Caio Fernando Abreu.

Bem, devo confessar que primeiro senti uma certa pontada de orgulho/vaidade ao me ver confundido/comparado ao grande Caio que tanto admiro, e resolvi pesquisar no Grande Oráculo. Digitei  o título do email (Só sei que nós nos amamos muito de Caio Fernando Abreu) e aí foi um espanto. A página mostrava 35.900 resultados. O orgulho deu lugar à preocupação. Cliquei no primeiro resultado e lá estava meu texto com meu nome no final. Ufa... Cliquei no segundo e lá estava o meu texto atribuído ao C.F.A.. Pensei em deixar um comentário reivindicando a autoria daquele texto, mas logo percebi que aquele 'post' era um reblogue, que já tinha sido reblogado e reblogado por centenas de outros blogues. Cliquei em mais alguns resultados e percebi o mesmo. Não havia o que fazer. A ficha finalmente caiu e senti uma grande tristeza.

Sei que a questão autoral é cada vez mais vilipendiada neste mundo digital. O fato de eu não receber o devido dinheiro pelas minhas criações, tanto literárias quanto musicais, já passa há tempos por um processo de absorção e conformidade forçada. Mas o mínimo que minha ingenuidade proxyana espera(va) é(ra) receber pelo menos o crédito por aquilo que eu criei. E quando nem sua expectativa mais baixa consegue ser alcançada, fica um vazio.

Este episódio só veio corroborar uma ideia que, cada vez mais, amadurece em mim: a iminente e inevitável morte do autor.

E olha que a maioria dos meus amigos me considera um otimista.

O que eu vejo é que a depreciação da questão autoral já atinge os criadores, e cada vez vai se criar menos. Já podemos vislumbrar a pseudoarte do copiar e colar ganhando espaço no mundo dos bits. E a tendência é que essa ferramenta venha a dominar completamente o processo 'criativo'. E assim será, até chegar o dia em que os humanos não mais se preocuparão com esta tarefa menor, relegando-a às máquinas. Um pensamento assombroso, mesmo para um pessimista.

Só me resta dizer que tenho  a esperança de não estar mais neste planeta quando isso acontecer. E quem sabe um dia eu volte reencarnado como um 'John, o selvagem', admirando fragmentos perdidos de textos de Shakespeare, à margem, como sempre fui, deste admirável mundo novo.