Ei! Você... Acorde!
Agora se ajeite na cadeira. Fique à vontade. Estique seu corpo... ou se contraia... O importante é que você encontre uma posição confortável. Imagine-se num lugar bem tranquilo. Acolhedor. Meia-luz. Silêncio. A temperatura agradável. Vamos! Você consegue!
Pronto! Não se assuste com esse pequeno barulho ao seu lado. Sou eu me ajeitando. Sim, também estou aqui. Eu vim porque preciso que você me escute. Eu vim para me confessar. Preparada?
Não pense que não reparei neste enorme peso que você carrega sobre seus ombros. Como se fosse um imenso saco de desejos conflitantes. Um piano de dúvidas. Ele sempre esteve aí. E o meu primeiro pecado foi não tirar esse peso de você. Eu sabia que com isso abriria uma brecha para que ladrões e aventureiros o fizessem. Sabia também que você, aliviada, permitiria. Sim, eu sabia. Não me queira mal por ter deixado isso acontecer. Se agi assim foi porque acreditei que ele estava aí pro seu bem. Que só carregando esse peso você ficaria forte. Foi porque acredito que não importa quantos pesos outras pessoas tirem de você, sempre surgirão novos fardos ainda maiores. Que só quando tiver força para suportá-los, perceberá que é a única pessoa que pode lidar com eles. Esse dia chegará, e então talvez me perdoe. Mesmo que tardiamente.
Esse perdão não significa muito. Essa negligência não foi meu único pecado.
O meu segundo pecado também foi a negligência. Mas dessa vez comigo mesmo. De tanto querer o bem do outro deixei de querer meu próprio bem. Nem percebi que, agindo assim, eu não conseguia mais ser como você queria que eu fosse. Parece complicado, contraditório.... De tanto querer ajudar, tornei-me incapaz de fazê-lo. Deve ser por isso que, durante as instruções de segurança dos vôos, as aeromoças avisam que se a pessoa ao seu lado precisar de ajuda para colocar a máscara de oxigênio, primeiro você deve colocar a sua para só depois ajudá-la. Ora! Quem já passou por esta situação numa real emergência para saber como reagiria? Enfim, espero que um dia você tenha a felicidade de ser mãe e perceba que seu próprio bem estar não importará tanto, porque agora existe alguém que precisa mais de você do que você mesma. Nesse dia você entenderá... Talvez.
Eu podia ficar aqui desfilando meus pecados. A autocomiseração, a presunção, a teimosia... Sim, eles são muitos e não quero lhe entediar. Vou parar porque percebi que não busco remissão. Porque sei que tenho um pecado maior para o qual não existe perdão.
Eu sempre acreditei que a minha vida era um sonho, e já não consigo acordar. Aliás, acordar seria a minha morte. Agora estou preso aqui. Eternamente. Condenado a sonhar e condenando outros a viverem meu sonho. Por isso o ‘acorde’ do início. Dissonante. Menor com sétima maior. Acorde você que para mim já não há saída. Meu maior pecado sempre foi a ilusão.
Gian,
ResponderExcluirparece haver uma espécie de sacerdócio cujo exercício é o cultivo do amar. Entre perdas e danos, entre o viver e o morrer, o amor como a música, são essenciais. Para mim isto não é ilusório em si porque a ilusão é apenas humana.
Mas posso também estar iludida, não é?
Belo texto.
No primeiro parágrafo, foi como se eu estivesse diante de um fenômeno paranormal.
Interessante!
Bom domingo!
É... eu também ainda acredito no amor...
ResponderExcluirLindo, Gian!
Bjs!
Por que é que tem que ser assim?...
ResponderExcluirSEM PALAVRAS!
Gian, que texto lindo... Um desabafo sincero, maduro. Relacionamentos são assim mesmo, quando a gente ama quer sempre o melhor do outro e do que nos une, é a vontade enorme de acertar, o que nem sempre acontece. Acertamos e erramos, e vamos aprendendo com isso. Refletir sobre o passado é salutar e necessário, nos faz crescer como pessoas, e o mais importante, agir diferente em uma próxima vez.
ResponderExcluirTambém acredito no amor, você não é o único. Neste mundo tão superficial, o amor as vezes soa exagerado e irreal, mas, só para aqueles que não entendem que nele reside a maior das riquezas e uma felicidade mais que sincera.
Que bom ter vindo aqui!
Abraços.
Gian
ResponderExcluirBelo desabafo, lindo e muito real texto...adorei.
Beijinhos
Sonhadora
Nossa.. adoreii.. sem palavras..
ResponderExcluir;*
Intenso! Cada palavra explodia sentimentos!
ResponderExcluirMuito bom!
Proponho que deixemos os pesos de lado, que choremos juntos, pelo que não chegou a ser, que façamos um brinde, com alguma bebida forte, e que cantemos musiquinhas antigas, daqueles que só lembramos alguns versos...isso tudo, junto, funciona como uma espécie de exorcismo. Estaremos bem, pela manhã.
ResponderExcluirBeijo, moço talentoso.
ℓυηα
Que lindo!
ResponderExcluirAcho que muitos pecam com a ilusão.
Eu também acredito no amor, e acho que todos deveriam fazer o mesmo...
;*
Cicatrizes. Quem não viveu não as tem :)
ResponderExcluirPS: acredite ;)
Que lindooooooooooooooo Gian.
ResponderExcluirÉ...eu ainda acredito no amor (Apesar de..)
Super, super abraçoooo!
Adoro aqui!
Oi
ResponderExcluirQue maravilhoso esse texto!!
Amor saindo pelos poros!!!
Eu tb ainda acredito....
abraço!!!
Gostei muito do que escreveu Gian. A introdução hipnotiza a gente , depois não tem como parar...
ResponderExcluirDá uma olhadinha num som que botei lá, acho que vc vai gostar, é bem bonito, a moça chama Esperanza Spalding.
Gi
São tantos erros deixados pelo caminho... E pedimos para que nos entendam, que nos absolvam, porque esperamos tanto do amor, da compaixão... Nem sempre recebemos algo em troca, nem mesmo compreensão e perdão. Uma vez em um sonho, para sempre dentro dele. Bem-vindo a esse mundo mágico e traiçoeiro que é sonhar!
ResponderExcluirLindissímo. Belo blog...
ResponderExcluirQue lindo, triste e real.
ResponderExcluirQuantas vezes não abdicamos de nos mesmos e perdemos quem amamos porque não somos os mesmos?
Comigo aconteceu só uma vez e eu achei tão injusto na ocasião, agora entendo que quem me deixou mu(oul)dar fui eu mesma.
Este teu escrito me fez pensar o quanto é difícil reconhecer a neutralidade do outro. em muitas situações, esta realmente não existe.
ResponderExcluirE assim, nunca saímos 'ilesos'.
Abraços.
Lembrei do Galeano perguntando "E agora, Helena, e agora?! O que é que eu faço com os seus sonhos?" em a Arte de Viver do seu delicioso livro dos abraços.
ResponderExcluirE eu suspiro...
Você é lindo na sua inteireza.
Onde está a ficção e onde está a realidade? Pouco importa!! Tenho visto ao longo dos tempos que por mais que digamos uma coisa os outros sempre entenderão o que querem entender, e não sei se vejo isso como um defeito ou como uma prova de seja você mesmo em tempo integral.
ResponderExcluirQuando descobrimos que só somos capazes de alterar a vida dos outros na medida que eles nos permitem, deixamos de carregar um fardo com o peso do mundo, o que acaba nos tornando mais leves e soltos no mundo.
Quando comecei a ler me lembrei do filme "Anjo de Vidro", mas precisamente, pra encurtar a historia, da parte em que um rapaz pede perdão para um senhor “se passando” por sua esposa morta. É curioso, como o ato de se desculpar é capaz de redimir não só quem o pratica, mas todo um grupo que talvez tenha agido da mesma forma.
É um ato nobre, quando nos achamos perdidos e tentamos salvar os outros do buraco em que estamos, matar a sede alheia com eu próprio deserto, coisas do tipo.
A ilusão não é um pecado, é sim uma redenção. Um esconderijo, um canto de proteção onde pessoas exaustas (e que não pertencem aqui) podem se proteger sem estarem armadas.
Eu talvez não acredite mais no amor, ou talvez tenha medo de admitir isso, agora de fato tenho orgulho e admiração por ve-lo fazer isso.
Porque que eu não aprendi a falar pouco?
Beijos da amiga de blog...
Anna
Melhor morrer que deixar de acreditar no amor...
ResponderExcluirCicatrizes,,,agente convive com elas.
Bjos meus e parabens pelo belissimo texto
O amor existe. Nós, sonhadores, somos aqueles que jamais desistem. Sempre haverá aquela bela que não se importa com uma ajudinha para carregar o fardo e não titubeia em ajeitar primeiro a sua máscara de emergência. A paixão é predadora, mas o amor, ah o amor, este é cuidador.
ResponderExcluirAbraço: Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com . Parabéns pelo texto, Gian! E não se espante com a minha aparição repentina. Vim trazer um abraço. Até!
Amor é ilusão. E ainda assim insistimos em acreditar naquilo que os olhos não vêm mas o coração sente. Rá! Ingenuidade (ou inocência) é nosso sobrenome.
ResponderExcluirGian,
ResponderExcluirDeixei o acesso ao meu blog apenas à leitores convidados. Gostaria de lhe enviar um convite. Seria importante para mim, saber sua opnião sobre meus escritos. Envie seu email do blog para o meu: angelica3292@gmail.com.
Aguardo retorno!
Abraço
Vim só para deixar beijos, mas com este excelente texto (mais um!), fiquei a ler... Então... ainda acredito no amor...
ResponderExcluirCom carinho.
Helena
Gian, você escreve de um jeito que eu sinto como se mergulhasse no seu texto!! E a imersão é sempre envolvente!! :) bjssssss
ResponderExcluirGian,
ResponderExcluirTranso música e poesia, e venho convidar-te a conhecer o CANTO GERAL DO BRASIL (e outros cantos), cantinho onde canto minhas homenagens a pessoas como Pessoa, Cazuza, Buarque, Tom Zé, Adélia Prado, João Cabral, Betha, Fagner, Shake, Rosa, Dru-mundo, Gullar, Bandeira, Bilac, ad infinitum...
Abraço mineiro,
Pedro Ramúcio.
Pois é. Estes pecados não perdoados, quem sabe um dia caiam em esquecimento, já que no fim das contas, o amor é tudo que você precisa.
ResponderExcluir(:
Cheguei aqui e literalmente me apaixonei pelas palavras , você soube poucos fazê-las bailar ao som da música que pulula em suas veias artísticas. Infelizmente nem sempre nos nossos sonhos podemos capturar do real o que queremos compartilhar com o escolhido especial...mas temos que nos contentar com esta imensa multidão que nos segue ...e são felizes e cativados pelo que fazemos. Quem aqui vem sempre volta, voltarei!
ResponderExcluirFelicidades.
.
É, eu também acredito, no amor.
ResponderExcluirBeijos,
Krystal.
Eu não lamento nada...
ResponderExcluirMeus pecados são varridos e sempre recomeço do zero. Desde que o amor inunde minhas manhãs.
LINDO!
ResponderExcluirContinua como sempre : UM POETA !
ResponderExcluirParabens !
Indiquei um selo pro seu blog :)
ResponderExcluirEspero que goste ^^
Beijos :*
Lindo seu blog, gostaria que você fosse conhecer o meu www.odeliriodabruxa.blogspot.com
ResponderExcluirUm beijo
Denise
Você é um poeta *_* Um trecho mais intenso que o outro.
ResponderExcluirAh! Pretendes escrever um livro? hehe ^^
BEIJOOS! Parabééns pelo belissimo modo de escrever =D
Um poeta cego de amor julga à distância. Com a perfeição que jamais conseguiria se estivesse perto.
ResponderExcluirUm forte abraço
lindo...perfeito...adorei o texto e me senti nele!!!!
ResponderExcluirparabens pelo post...
e pelo blog
amei muito e estou seguindo!bjs
Depois de muito tempo, eis-me aqui e lá também. Será que ainda lembra-se de mim? Finalmente o sistema de comentários voltou a funcionar. Espero que goste do que acabei de publicar.
ResponderExcluirCom o mesmo carinho de sempre, folhas secas deste Outono.
Sabe quando você lê algo e pensa:
ResponderExcluirNOSSA!
Isso é meu...........a autoria é dele mas é exatamente assim q sinto,só me faltou capacidade para dizer de forma assim,tão bela.
tb acredito,e por acreditar...
sorrio
carinho
Olá Gian,
ResponderExcluirTudo bem por aí?
Essa sua sensibilidade...me assusta! Você tem o dom para decifrar a alma. Me identifico em suas palavras...parece que você as escreve, especialmente p/ mim.
Um grande abraço, Fernanda
pautajornalistica.blogspot.com
Adorei, me lembrou um texto do meu querido Bertolt Brecht!
ResponderExcluirTudo de bom para você!
Te seguindo :D
ResponderExcluirMARAVILHOSO!
ResponderExcluirParabéns pela dança com as palavras, por nos remeter a memórias, que antes eram tristes, hoje, não mais. Foram necessários todos os tipos de sentimentos para aqui chegar...
Paramos de sofrer, quando deixamos de esperar pelo que o outro acha...Não importa. O que importa é a nossa liberdade em sonhar. Se realizamos esses sonhos, isso, é uma outra história. Mas deixar de sonhar, isso não. Se eu parar de sonhar, eu murcho, assim como, se eu parar de amar eu deixo de existir.
Adorei estar aqui...
PARABÉNS!
Espaço aconhegante que nos convida literalmente a bailar. Obrigada por esta dança.
Luz e Bênçãos è você a cada dia
Namastê!
;D
O ultimo paragrafo está simplesmente perfeito,
ResponderExcluirparabéns .
Quando penso que já me surpreendi ao extremo, a dança das suas palavras me encantam mais e mais. Não poderia esperar menos, vindo de você Gian. Admiro o seu impressionante "poder" sob as palavras.
ResponderExcluirRilávia R.