Existe um monstro dentro em mim. Sim, existe um em cada de nós. O meu habita uma prisão suja e escura, de cujas paredes brota um musgo viscoso. Uma prisão solitária onde volta e meia o visito. Ele chora ao me avistar. Eu, apiedado, o alimento com o que há de melhor entre meus medos e sustos.
Sei que aos confinados urge o desejo de liberdade. E de mim, me escapou várias vezes o monstro. Mas aprendi suas artimanhas. E atirei para longe, num lugar que não lembro onde, a chave de sua prisão. Agora não há mais saída.
Confesso que me compadece vê-lo jazendo naquele local insalubre. Ele diz que sou um carcereiro cruel. Argumenta que até os condenados mais bárbaros têm direito a luz do sol. Mas não lhe dou ouvidos. São muito espertos estes monstros. Não me acho cruel, apenas temo o que não controlo.
Talvez ele nem imagine, mas sempre me lembrarei de uma passagem em especial, da última vez que ele me escapou. Enquanto eu gritava que ele nunca mais fugiria, que ele nunca mais faria mal a ninguém, arrastadando-o à força prisão adentro, ele me pedia para não tratá-lo daquela forma. Foi quando eu disse "Cala-te monstro". Naquele momento seu olhos aterrorizantes se tornaram dulcíssimos, e ele grunhiu: "Não me chame assim, eu tenho nome". Ignorei e repeti "Cala-te monstro", mas ele se aproximou e sussurou no meu ouvido: "Não me chame assim, eu me chamo Inocência".
Sei que aos confinados urge o desejo de liberdade. E de mim, me escapou várias vezes o monstro. Mas aprendi suas artimanhas. E atirei para longe, num lugar que não lembro onde, a chave de sua prisão. Agora não há mais saída.
Confesso que me compadece vê-lo jazendo naquele local insalubre. Ele diz que sou um carcereiro cruel. Argumenta que até os condenados mais bárbaros têm direito a luz do sol. Mas não lhe dou ouvidos. São muito espertos estes monstros. Não me acho cruel, apenas temo o que não controlo.
Talvez ele nem imagine, mas sempre me lembrarei de uma passagem em especial, da última vez que ele me escapou. Enquanto eu gritava que ele nunca mais fugiria, que ele nunca mais faria mal a ninguém, arrastadando-o à força prisão adentro, ele me pedia para não tratá-lo daquela forma. Foi quando eu disse "Cala-te monstro". Naquele momento seu olhos aterrorizantes se tornaram dulcíssimos, e ele grunhiu: "Não me chame assim, eu tenho nome". Ignorei e repeti "Cala-te monstro", mas ele se aproximou e sussurou no meu ouvido: "Não me chame assim, eu me chamo Inocência".