Os Dançarinos

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Nosso Encontro Imaginário

Eu a vi andando na rua... parecia estar chorando.

Não pude ver seu rosto, pois seu corpo estava curvado,
como se carregasse nos ombros o peso de suas mil vidas.

Quando finalmente passou por mim reparei que ela deixava um rastro
cor-de-rosa.
Seria estranho se não fosse mágico.

Eu chamei seu nome, mas seu nome era uma letra.
E letras precisam de letras para encontrar seus sentidos.

O vento balançou levemente seus cabelos,
mas ela não olhou para trás.

Nunca.


segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Criação




E o matuto?
Dando com o pedaço de pau
nos restos daquela fogueira...
Maluco?
Que nada!
Parecia Deus criando as estrelas.


quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Letra e Música

No final de 2008, tive uma ideia para saciar minha vontade de escrever especialmente para a internet. O projeto consistia em 20 textos que trariam histórias, divagações e memórias afetivas escritas a partir de músicas que marcaram a minha vida (10 delas internacionais e outras 10 nacionais). E o legal é que você poderia ouvir a música em questão enquanto lia a crônica.

Comecei a fazer este trabalho - que intitulei 'Letra e Música' - no site da minha banda, mas, com a reformulação do mesmo, os textos que estavam lá acabaram saindo do ar. Assim, decidi republicá-los aqui.

Novos textos ainda estão por vir. Quero chegar aos vinte da ideia original. Conforme eles forem surgindo eu os publico. Um a cada mês, um a cada ano...  sei lá, não tenho pressa, mas um dia eu chego lá.

Enquanto isso, divirta-se... (clique no título para ler o post)

as temperadas

01 - A Música e Eu (Deep Purple - Child in Time)

02 - Separação (The Beatles - For no One)

03 - Comédia Romântica (Bread - Aubrey)

04 - A Tristeza é Azul (Leonard Cohen - A Thousand Kisses Deep)

05 - Imaginário (Led Zeppelin - Going to California)

06 - Ouro Verde (Neil Young - After the Gold Rush)

07 - Inocência (Smashing Pumpkins - 1979)

08 - A Profecia (Bob Dylan - Like a Rolling Stone)

09 - Natureza Humana (Pink Floyd - Dogs)

10 - Sobre as Mulheres (John Lennon - Woman)


as tropicais

01 - Dominus Illuminatio Mea (Raul Seixas - Gita)

02 - Libertas Quæ Sera Tamen (Lô Borges - Clube da Esquina nº2)

03 -

04 -

05 -

06 -

07 -

08 -

09 -

10 -

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Numa Noite de Chuva...

Era noite. Tarde da noite.

Eu estava assistindo a um filme na televisão quando começou a chover. Corri para fechar as janelas da casa e, quando fechei a última, parei para ver a chuva caindo. Era uma chuva forte, tão forte que seu barulho parecia o de uma cachoeira. Podia-se ver os pingos caindo grossos, iluminados pela luz amarelada que vinha dos combustores. Fiquei ali parado por um tempo, com o rosto encostado no vidro, observando, sem pensar em nada. Apenas olhando aquela cena tão comum. E fui tomado por uma sensação boa. O mundo caía lá fora, mas eu estava protegido. A sensação acolhedora da proteção.

Ainda me deliciava com aquela sensação agradável quando um pensamento me ocorreu. Ri de mim mesmo, mas o pensamento riu mais alto, e, antes que eu percebesse, ele se tornou uma vontade. A princípio fiquei na dúvida, mas não encontrei nenhum argumento que me contradissesse. Bem, na verdade encontrei vários, mas nenhum que demovesse minha vontade que, naquela altura, já era um desejo.


Calcei meus sapatos, abri a porta e simplesmente saí andando pela rua.

As gotas caíam frias e pesadas sobre mim, molhando meus cabelos e escorrendo pelo meu rosto. Encharcando minhas roupas. E enquanto eu andava, eu pensava. Era ótimo andar na chuva. Sem pressa. Sem destino. Apenas andar na chuva. Devagar. Sozinho. Era como se eu pudesse distorcer a própria percepção do tempo. Divertia-me pisando nas poças, uma a uma e, quando não as havia, olhava para a escuridão da noite sentindo a chuva batendo na minha cara. Se a sensação que eu experimentara na minha casa era boa, a sensação de andar a esmo numa noite de chuva era infinitamente melhor. Se antes eu experimentara o conforto, agora eu experimentava a liberdade.

Pensei: Talvez a liberdade seja isso. Sair da proteção e enfrentar o que aparentemente nos ameaça. Talvez não exista liberdade na proteção, nem proteção na liberdade. E esse pensamento me assustou. Olhei a minha volta. A rua estava deserta. Eu estava longe de casa, molhado e com frio. E senti medo. A liberdade também pode se tornar uma ameaça. E, se a liberdade é enfrentar uma ameaça, enfrentar a ameaça da liberdade é um caminho sem volta. Talvez a loucura seja isso. Não sei dizer, eu fui longe, mas não fui em frente. Apenas virei e tomei o rumo de casa.

A volta foi bem mais longa do que a ida. Eu perdera o poder de distorcer o tempo. Tremia de frio quando abri a porta de casa. Tirei as roupas molhadas que logo formaram uma poça no chão. E entrei, com a alma e o corpo nus, num longo banho fervente. Quando a água me aqueceu, voltei a rir de mim mesmo. Que maluco! Pensei. Saí do banho, me enxuguei, coloquei um pijama e entrei debaixo das cobertas. Lá fora a chuva continuava caindo. Mas a sensação de conforto voltara.

Antes de dormir peguei esse papel e comecei a escrever esse texto. Queria contar minha experiência de confrontar o conforto. Queria falar sobre a liberdade. Mas no fim acho que acabei mostrando para mim mesmo que eu sou covarde demais para ser louco. O que convenhamos, pode ser uma benção.

Ainda é noite, tarde da noite. Mas a chuva parou lá fora.


sábado, 12 de setembro de 2009

Poema de Vento




A ventania, que mal educada,
entrou sem pedir licença.

Foi logo derrubando coisas,
tirando tudo do seu lugar...

E mexeu comigo por dentro

Enquanto eu olhava o vento
jogando os galhos pra lá e pra cá.

Era bonito de ver, mas também dava um certo medo
(não me sinto confortável no meio da ventania).

Admiração e temor.
Não é o que se sente diante dos superiores?

Então deve ser isso:
Eu também sou vento,
mas sou fraco.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Film Noir

Eu não sei dizer como cheguei aqui. Eu não sei.

A última coisa que lembro foi que eles me levaram algemado para um sala escura e apertada. Lá havia uma única cadeira de madeira, colocada bem no centro, sob uma lâmpada que pendia do teto emanando uma luz pálida. Foi alí que me sentaram. A sala fedia.

De tempos em tempos alguém entrava e me perguntava pelo nome. Eu não sabia do que falavam, não sabia o que queriam.

Minhas asas doíam, espremidas num capote de couro surrado. Eu tentava gritar, mas minha voz não saía. Foi quando ele entrou na sala. Eu não o conhecia, mas soube quem era só pelo jeito que me olhou. Ele percebeu meu medo. Parou em pé na minha frente e falou:

- Diga o que eles querem saber ou você será condenado a tomar a forma dos que não sabem.
- Mas eu não sei o que eles querem. - respondi.
- É simples, basta dizer o nome.
- Por favor! Supliquei. O nome de quem?
- O nome disso que você tanto quer.



quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Papéis Antigos


Eu já confessei minha compulsão em escrever e o hábito de jogar fora as coisas que escrevo. Mas às vezes algumas coisas conseguem escapar.

Há alguns meses atrás eu achei um pedaço de papel na minha gaveta onde se lia a frase 'Nas coisas pequenas repousam os amores'. Devia ser bem antigo pois não me lembrava de ter escrito aquilo, talvez até tenha visto ou lido em algum lugar, não tenho certeza, mas como não tinha nenhuma referência acredito que era meu mesmo.

Nesse dia eu estava com muita raiva de mim mesmo. Cansado de me sabotar. Puto. E essa simples frase acabou deflagrando uma letra chamada Outro Eu. (se interessar a música pode ser ouvida no CD O Fim da Infância que gravei com a Carmem e o Tantra)

Mas vou aproveitar para salvar aqui dois papéis que acabei de encontrar na bagunça da minha mesa. Esses eu lembro bem de ter escrito.

---------------------------------------------------
ecos paralelos

os iguais jamais se tocam.
e mesmo o Tempo, tirano maior do universo,
se dobra diante de tal assombro...
---------------------------------------------------
um momento

curioso é o momento
um mero ponto na linha do tempo
que apesar de estático,
rima com movimento.
---------------------------------------------------

Vou deixar isso por aqui. Quem sabe um dia tenha alguma serventia.
Pronto! Os papéis podem ir pro lixo. Em paz.

A Dança das Palavras

Desde pequeno tenho essa mania de escrever.
No começo achava que isso seria de alguma forma libertador, mas já não tenho essa pretensão. De qualquer forma, não sei se por hábito ou vício, continuo escrevendo. Eu simplesmente temo e adoro o desafio da página em branco.

Sempre anoto idéias e pensamentos... Se fosse mais organizado, ou melhor, menos crítico, poderia encher livros e livros com tudo que já escrevi, mas a imensa maioria dessas anotações não resiste às minhas esporádicas e cruéis 'limpezas de gavetas' e terminam no lixo. Desperdício? Não, é vergonha mesmo. Às vezes leio coisas que escrevi e penso: Meu Deus! Como tive coragem de dizer isso. É como se eu tivesse saído na rua de cueca. E você tem que convir que não pega bem se expor assim.

Bem... O tempo vai levando muitas coisas nossas, entre elas vão-se alguns pudores.  É a única razão que encontro para explicar porque criei esse espaço. Mas adianto: Aqui não tem formato, regularidade, regra, controle de qualidade ou juízo de valor. Apenas palavras. Dançando.

Ah! O título é um termo que eu tomei emprestado da Alessandra Debs, uma pessoa queridíssima que sempre me dizia que eu era muito talentoso com a dança das palavras. Elogios à parte, eu gostava mesmo era dessa imagem. Porque as palavras dançam, mas são poucos que conseguem perceber isso...

E dançar com elas.